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Artigo: Utopias como forma de coesão social

Publicado por: Campus Rondonópolis / 7 de Outubro de 2020 às 10:20

A pandemia da Covid-19 está escancarando várias modificações que já estavam em curso na sociedade: intensificação da uberização do trabalho, ensino remoto, home office, dentre outras. Neste momento de tensão, diferentes ideais de mundo estão surgindo ou sendo reafirmados. Há necessidade de “reorganizarmos” o caos instaurado.

É importante destacar que não somos a primeira sociedade a passar por crises. Da Mesopotâmia à Roma. Da Idade Média à contemporânea. Todos atravessaram momentos de tensões sociais. Porém, não é somente nas constantes tensões que nos igualamos, mas também na resposta que damos a elas. Por meio de construção de narrativas, gerimos o imaginário coletivo da população, o que, em primeiro momento, pode ser concebido como utópico. Sem a construção de ficções que retratam um mundo feliz e justo, a sociedade não sairia de um estágio x para um y.

Por exemplo, antes da formação dos Estados democráticos de direito na modernidade, a democracia liberal existia somente no campo das ideias. Pura ficção. John Locke, no entanto, num contexto de despotismo e tirania monárquica, propôs a liberdade e a busca da felicidade como direitos naturais aos humanos. Anos transcorreram e ascenderam no mundo as revoluções burguesas, dispersando assim, esses valores cujo alcance poderia ser considerado, a priori, impossível.

Ideias políticas, portanto, são ficções, das quais os seres humanos, segundo o historiador Yuval Harari, dependem para vislumbrar e almejar o bem comum. Disso se infere que as utopias (ficções) são a força propulsora que desencadeia mudanças numa ordem vigente que já não atende às expectativas do homem num determinado estágio de desenvolvimento intelecto-moral. 

Evidente que, embora as utopias desempenhem importante papel nesse processo de transformações, elas não devem ser aceitas indiscriminadamente. No século XX, por exemplo, o homem, na ânsia de concretizar suas ficções de extinção das classes sociais ou formação uma sociedade de “raça pura”, levou a humanidade à barbárie; à efetivação do que poderia ser enquadrado como uma distopia. Por isso, conhecer as motivações, que geram essa ou aquela utopia, e os impactos, decorrentes dela, é necessário. Vão aqui duas dicas de perguntas básicas: felicidade para quem? Benefícios para que setores? 

Portanto, refletir sobre as utopias é de suma importância para compreender a situação atual, visto que estamos nos rearranjando como sociedade e, em uma velocidade nunca vista na história, desenvolvem-se tecnologias e visões de mundo com repercussões instantâneas. Assim, é imprescindível que os cidadãos analisem as propostas ao seu redor de maneira crítica: não ignorando as possibilidades de mundo melhor, como por exemplo, um modelo econômico mais sustentável; mas também, não aceitando sem criticidade qualquer ideia posta em vista. Caso isso não ocorra, veremos o potencial destruidor de antiutopias, tidas como “boas” por determinado grupo, sendo colocadas em prática. 

“Poder-se-á imaginar maior tragédia do que, no esforço de modelar conscientemente o nosso futuro de acordo com elevados ideais, estarmos, de fato e involuntariamente produzindo o oposto daquilo que vimos lutando?” Friedrich Hayek

Kamilly Rosa Souza Matos é discente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) - e está no 3° ano do Ensino Médio integrado ao curso Secretariado

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