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Artigo: Ser mãe pode ser um fardo e ninguém fala sobre isso

Publicado por: Campus Rondonópolis / 15 de Maio de 2020 às 11:05

A idealização da mãe perfeita não é uma realidade recente no mundo. A forma como floreiam uma gestação e a vida maternal é um dos motivos pelos quais, na minha pouco vasta forma de enxergar o mundo, as mulheres sentem o peso da realidade de maneira dolorosa, porque, na maioria das vezes, mesmo que inconscientemente, sentem que será quase como um fardo que levarão por toda a vida. Penso que olhar para um bebê que as enxerga com admiração, amor e que as têm como heroínas… olhar para ele e não conseguir sentir o que é pressuposto, pode ser sim apenas um momento definido como "depressão pós-parto" mas e se for mais que isso? E se esse sentimento durar uma vida toda?

Me dói pensar que somos desenhadas e impostas a uma vida já estabelecida para nós. É quase como um roteiro de filme: a faculdade, o namoro, casamento e, por fim, a tão esperada (muitas vezes não por aquelas que são as protagonistas deste filme) maternidade!

Além disso, não podemos esquecer da pressão que sofremos se não nos casarmos na idade preestabelecida pela sociedade. Quando já se é uma mulher de meia idade, a frase "vais ficar para a tia" é rotineira. Seria por acaso um crime querer de fato "ficar para a tia"? Isto é algo que está fora do meu alcance responder, mas o que eu sei e posso dizer com total segurança é que é muito difícil representar uma figura materna, mas não ser de coração.

Talvez se toda essa pressão social imposta sobre as mulheres acabasse, talvez, o roteiro do filme fosse modificado e o final pudesse ser outro que não o de dezenas de milhares de crianças carentes de afeto de mãe.  A romantização exagerada em filmes e, sobretudo, em propagandas do dia das mães parece contribuir  para que a trama social hodierna se esgarce por falta desse carinho. Isto só porque a mulher se sente no dever de “não ficar para titia”, rótulo que a diminuiria perante a uma sociedade tão ética em princípios e valores. 

Vale mencionar ainda, algo de suma importância: as mães solteiras. Segundo o Instituto Data Popular, da Agência Brasil, em 2015, o país contava com 67 milhões de mães, das quais 31% são solteiras. É claro que, pela cultura machista arraigada na sociedade, os homens, que se sentem no direito de se isentarem das responsabilidade de pais, deixam seus filhos sob a responsabilidade só das mães que, nem sempre, estão aptas para assumir tal compromisso.

Sendo assim, cabe à "mãe perfeita" cumprir o papel de responsabilizar-se pela  criação de um ser humano com valores estruturados e uma boa índole. O que de fato é algo honroso, mas que não deveria ser romantizado e enaltecido. Afinal, não são estrelinhas e purpurinas, nunca é fácil cuidar de um filho sozinha, e isso deve e precisa ser problematizado. 

Me pergunto muitas vezes se o homem também é cobrado  dessa forma, mas em toda a minha vida eu nunca ouvi um "vais ficar para o tio". 

Os valores de uma sociedade já estruturada não deveriam interferir nas escolhas da mulher, sem levar em conta suas decisões e, principalmente, questões do âmbito emocional. Mas é cada vez mais difícil viver o diferente quando a moralidade deixa explícito que o certo é ser igual, fazer igual, ter igual... 

De fato, não será fácil desconstruir a maternidade romântica a qual nos fazem acreditar que existe, mas com toda certeza será libertador, sem mulheres sofrendo em silêncio e sem adolescentes com o fardo de uma vida sucinta de amor. 


Maria Fernanda Nunes
Aluna do Curso Técnico em Química - IFMT Rondonópolis; transmissora de conteúdos informativos e auxiliar estudantil do RUPTURA, defensora do Movimento Feminista e em busca da verdadeira igualitariedade

Texto revisado: Arlete Fonseca - Docente Lingua Portuguesa

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